“Quanto mais viajo, mais gosto do meu país.”

Um primo meu pôs esta frase no Facebook, julgo que em comemoração do 10 de Junho. Poderia supor-se que nós Portugueses, no nosso feriado nacional, nos encheríamos de orgulho, o peito a arfar A Portuguesa enquanto a sardinha grelha, Sagres na mão e esquerda e a direita no peito, mas não. O que Portugal merece de nós hoje em dia é que batamos com os cotos na praia enquanto o Cavaco sua no cortejo em Belém e, quanto muito, uma gentileza no Facebook. Afinal de contas a nossa fundamental gratidão por este dia é que fizeram dele um feriado.

Pus-me a pensar na frase do meu primo e se seria verdade que isso também me acontece. A mim, cidadã do Mundo em geração, sempre com o passaporte em dia e mais dinheiro gasto em bilhetes de avião e gastronomia estrangeira do que o que algum dia sonhei. A mim, cliente de embaixadas nos antípodas, sempre a par das últimas restrições de bagagem de mão e a fazer check-in aos poucos e poucos a cada oceano e continente. A mim, que já troco as línguas e não sei onde é que estou em casa.

A mim, aconteceu-me mais ou menos assim: qt mais viajo mais gosto do meu pais

Deduzo destes dados nada científicos, que quanto menos vivo em Portugal mais gosto do meu país.

“o sangue do rabeta não é sangue da treta”

Façam os cartazes, eu já dei o slogan.

A minha motivação é que eu fiz um gráfico* que é assim:

vih

Posso ainda acrescentar que os casos de infecção por HIV têm tido uma tendência crescente entre pessoas heterossexuais, o que significa que 10 anos depois a parte vermelha deste gráfico terá aumentado em detrimento das restantes.

Ou seja: o Prof. Dr. Hélder Trindade aconselhou que os homens homossexuais e bissexuais sexualmente activos sejam proibidos de dar sangue por causa do risco de serem portadores do vírus HIV quando eles consistem em 12% dos casos de SIDA identificados em Portugal. Por outro lado, os heterossoxuais (36% dos casos) podem dar sangue à vontade. Isto apesar de – OLHEM PARA O GRÁFICO – ser mais provável um dador heterossexual ter o vírus do que um homossexual.

Além disso, os homens homossexuais constituem uma micro-nano-pico-minoria da população nacional: suponhamos que 2% da população mundial seja homossexual e que desses 2%, 50% são mulheres. Isso dá, em Portugal, à volta de 220 mil cidadãos do sexo masculino e homossexuais. Em 2010 doaram sangue cerca de 294 mil pessoas, o que significa que se a demografia dos doadores seguisse a demografia da população em geral, cerca de 3 mil doadores anuais seriam homens gay. Ainda por cima eles testam o sangue todo, o que tem eliminado as infecções por transfusão! Qual é então a probabilidade de uma unidade de sangue doada estar contaminada com o vírus da SIDA contraído por sexo anal entre homens? Qual é a relevância desta probabilidade versus a probabilidade de uma unidade de sangue estar contaminada via sexo heterossexual?

A agenda política apoia este homem “seguro e frontal” (tive o desprazer de ter sido sua aluna e garanto isto são eufemismos para atitudes menos agradáveis) e que as suas recomendações deverão ser seguidas porque quem recebe sangue tem o direito de receber sangue seguro. E o prof. Dr. Trindade diz que os gays estão infestados de SIDA e de certeza que ele sabe melhor que as estatísticas oficiais, afinal de contas ele é um epidemiologista – ai desculpem não, ele é especialista em histocompatibilidade, que é basicamente uma disciplina da imunologia.

Ou seja: ou ninguém neste processo todo percebe de estatística ou os bancos de sangue estão a abarrotar.

Todos sabemos que não é a segunda hipótese e todos esperamos que as pessoas desta comissão saibam ler percentagens porque fizeram o nono ano de escolaridade.

Infelizmente, o que é mais provável é que os homens homo e bi não possam dar sangue porque as convicções “morais” de certas pessoas com poder de decisão estão acima do bem geral e até da objectividade que deveria ser inerente às suas funções públicas.

Quem sou eu para alvitrar, mas na qualidade de cidadã com 0+ (que é o tipo de sangue mais escasso e restrito em termos de receber doações) eu gostava de saber que a autoridades competentes estão a fazer de tudo para maximizar a quantidade de sangue disponível para quem precisa. E que se algum dia, lagarto lagarto, eu precisar duma transfusão não vou estar em sarilhos porque um paneleiro saudável foi proibido de dar sangue.

Fonte.

refrigerator-sized cars

If there one idea Tumblr has given me is that the US must be a horrible place to be a woman. According to Tumblr’s “Social Justice Warriors” and all the documentation they upload on that platform, women in America have very little empowerment in society and very little authority even over their own bodies. Also, nothing much is expected to change because the power is held by white male biggots.

Shit can give you nightmares of being stuck between a white, lacrosse team bomber jacket-bearing jock offering you a drink with roofies and pro-life demonstrators holding up anti-abortion signs while a group of senators turn their back on you and snicker.

Or at least it gave me interest in learning more about how America does gender equality (or doesn’t). And today I was reading an article on Bloomberg Business Week (a sounder source for oppinion shaping?) about american policies on maternity leave, which is almost non-existent. The problem seems to be nobody wants to pay young parents for the time they don’t work because they just had a baby. The very little that is paid is, well, very little and also doesn’t mean the job will be there waiting when the leave is over. Some of the consequences are that families can get into financial trouble for having children and that women lag behing in career progression. The article inevitably compares this scenario with what’s going on in other parts of the world, particularly Europe where we seem to have it good. (I assure you we only have it slightly better.) Read it if you’re interested.

A whole new debate, which the article didn’t cover, shapes up in the comments section: who’s benefiting from babies and, therefore, who should pay for the babies? Is it the parent’s who fulfil their dream of nurturing a family or the society who, well, lives on thanks to people reproducing on? Are children a societal or a personal benefit?

This could be the deepest shit ever seen in a comments section if it weren’t for the level of the comments as well as the the other recurrent point of debate: no comparison with Europe is pertinent because Europe is a high-tax, socialist society with a welfare (Welfare?) lifestyle… Some people, apparently, feel very strongly about that. I think this reader summed it up really well:

C1

So now we know it, fellow Europeans: refrigerator-sized cars and the hellish price to pay for social protection and smaller gender gaps and also we should all be ashamed of them.

sounds like my kinda job

Capture

Possible research topics:

– Semiotics of the dance playlist for eclectic groups

– Mojito and Caipirinha: comparative analysis of lime and spirit-based cocktails

– Sociology of the incidence of non-alcoholic beverages in gatherings of young professional adults

– Reducing waste levels by prolonging the crunchiness of chips and decreasing chewiness of pizza leftovers

– Novel materials for minimal disturbance of neighbours by sub-woofer throb

– Why Wonderwall? Consumer preference for safe choices in chord and vocal performance

found in Euraxess

um chato que é um herói de si mesmo

Acho muito fixe isto das notícias agora serem todas digitais. Com uns cliques no rato ou umas dedadas no ecrã do telemóvel e poucos minutos temos à frente uma panóplia de fornecedores de informação com todos os níveis de qualidade e para todos os bolsos. Escolher o que ler e quando o ler é mais fácil, frequentemente gratuito e rápido. O papel tem muito charme mas é muito menos prático.

Posto isto:

Tenho um ressentimento muito grande relativamente ao facto de os jornais online quererem ser tão interactivos. A informação não só vem deles para nós, mas nós também podemos deixar o nosso bitaite. Por um lado, compreendo: se certos caramelos têm direito a serem publicados em destaque nos chamados “artigos de opinião”, “crónicas” ou “colunas”, os restantes caramelos também têm direito. Vai-se a ver e a maioria de caramelos de ambos os lados têm níveis iguais de formação e relevância, nível esse que se intui ser relativamente baixo dada a sofreguidão dos jornais em produzir conteúdo e em se integrarem na febre da interacção social que é a internet.

O que eu não perdoo é que isto tenha aberto as portas da projecção indiscriminada a tanto energúmeno. O leitor-comentador chato tem o poder de transtornar mais que as más notícia e consegue tingir até as notícias boas. Não há filtro de profanidades e hyperlinks que valha à secção de comentários das notícias. O leitor-comentador chato não tem filtro nenhum e o ponto de vista mais estúpido, mesquinho e mal informado há-de ir lá parar. O leitor-comentador chato não dispõe, frequentemente, de mais nada do que o seu umbigo espectacular e único e a transbordar de opiniões, tão mas tão urgentes que a maioria das vezes nem lê o artigo em questão antes de debitar três parágrafos despropositados. O leitor-comentador chato absorve palavras-chave e assume o teor do que está escrito e sobre a produção de ananás nos Açores brada contra a mania das dietas. Brada fora do contexto, brada contra a ironia que não percebe, brada contra a gramática como um professor da quarta-classe, brada contra os factos que acha que entendeu mas não entendeu foi porra nenhuma. Brada em múltiplos artigos, brada contra os outros leitores-comentadores, contra o jornalista, pela a sua vida infeliz que nunca se concretizou na extensão do seu próprio ego, pela frustração de ser um visionário tão inteligente e relevante condenado a uma existência de carimbar papéis na conservatória. Todos, MAS TODOS, temos de ficar a saber de que maneira o leitor-comentador chato corrigiria o mundo e endireitaria as contas do estado e a moral da sociedade, se lhe dessem mais do que poder de voto e de acordo com uma filosofia trabalhada durante anos na grande escola do balcão do café.

são órbitas

São órbitas, são.
Parecem caminhos comuns,
Mãos dadas e adiante, mas não.
Órbitas que se cruzam
Ao fim do dia, depois de conceder
Às outras coisas da vida.
Por vezes come-se e fala-se,
Por vezes beija-se e cala-se.
Nada de se enaltecer.

Suspiro, raiva, guarida
Cócegas, abraço mudo,
São instrumentos de diplomacia.
É assim que o trajecto permanece
E que após outro circuito de tudo
O amor se acha de novo
À porta, à mesa, na cama,
No olhar que reconhece
O corpo que se aproxima
Como o tal que se ama.