Façam os cartazes, eu já dei o slogan.
A minha motivação é que eu fiz um gráfico* que é assim:
Posso ainda acrescentar que os casos de infecção por HIV têm tido uma tendência crescente entre pessoas heterossexuais, o que significa que 10 anos depois a parte vermelha deste gráfico terá aumentado em detrimento das restantes.
Ou seja: o Prof. Dr. Hélder Trindade aconselhou que os homens homossexuais e bissexuais sexualmente activos sejam proibidos de dar sangue por causa do risco de serem portadores do vírus HIV quando eles consistem em 12% dos casos de SIDA identificados em Portugal. Por outro lado, os heterossoxuais (36% dos casos) podem dar sangue à vontade. Isto apesar de – OLHEM PARA O GRÁFICO – ser mais provável um dador heterossexual ter o vírus do que um homossexual.
Além disso, os homens homossexuais constituem uma micro-nano-pico-minoria da população nacional: suponhamos que 2% da população mundial seja homossexual e que desses 2%, 50% são mulheres. Isso dá, em Portugal, à volta de 220 mil cidadãos do sexo masculino e homossexuais. Em 2010 doaram sangue cerca de 294 mil pessoas, o que significa que se a demografia dos doadores seguisse a demografia da população em geral, cerca de 3 mil doadores anuais seriam homens gay. Ainda por cima eles testam o sangue todo, o que tem eliminado as infecções por transfusão! Qual é então a probabilidade de uma unidade de sangue doada estar contaminada com o vírus da SIDA contraído por sexo anal entre homens? Qual é a relevância desta probabilidade versus a probabilidade de uma unidade de sangue estar contaminada via sexo heterossexual?
A agenda política apoia este homem “seguro e frontal” (tive o desprazer de ter sido sua aluna e garanto isto são eufemismos para atitudes menos agradáveis) e que as suas recomendações deverão ser seguidas porque quem recebe sangue tem o direito de receber sangue seguro. E o prof. Dr. Trindade diz que os gays estão infestados de SIDA e de certeza que ele sabe melhor que as estatísticas oficiais, afinal de contas ele é um epidemiologista – ai desculpem não, ele é especialista em histocompatibilidade, que é basicamente uma disciplina da imunologia.
Ou seja: ou ninguém neste processo todo percebe de estatística ou os bancos de sangue estão a abarrotar.
Todos sabemos que não é a segunda hipótese e todos esperamos que as pessoas desta comissão saibam ler percentagens porque fizeram o nono ano de escolaridade.
Infelizmente, o que é mais provável é que os homens homo e bi não possam dar sangue porque as convicções “morais” de certas pessoas com poder de decisão estão acima do bem geral e até da objectividade que deveria ser inerente às suas funções públicas.
Quem sou eu para alvitrar, mas na qualidade de cidadã com 0+ (que é o tipo de sangue mais escasso e restrito em termos de receber doações) eu gostava de saber que a autoridades competentes estão a fazer de tudo para maximizar a quantidade de sangue disponível para quem precisa. E que se algum dia, lagarto lagarto, eu precisar duma transfusão não vou estar em sarilhos porque um paneleiro saudável foi proibido de dar sangue.
Fonte.